28 de dezembro de 2006

E dos outros também...

Entraste no comboio na estação vazia de todos os dias. Mas nesse dia entraste tu. Imaginava-te de olhos cabisbaixos enquanto procuravas um lugar vazio perto da janela para que te pudesse iluminar enquanto folheavas o teu livro. Todos os lugares estavam ocupados. Apenas um vazio. Um acompanhado por alguém distante, de olhar vago. Esse não lia o jornal, não fazia sopa de letras, não dormia. Apenas não estava lá. Sentaste-te, cruzaste a perna, seria uma viagem igual a todas as outras, onde abrias o teu livro que te levava para longe da multidão que te rodeava. Nesse dia não conseguiste passar da primeira página, não estavas lá, voltavas atrás à procura de algo que te prendesse mais. Mais do que ele. Ele que não reparou em ti, que nem pestanejou quando chegaste, que nunca esteve ali e tu não sabias onde o encontrar. Querias dizer um olá, deixar o livro por um instante, embrenhares-te num diálogo, querias falar-lhe. Nunca te aconteceu. Essa necessidade de falar, de desabafar com alguém que nunca viste, que nunca te viu, que não te sabia dessa forma, nem de forma alguma. Querias falar-lhe dos teus dias, dos dias que sorrias e dos outros também. Dos dias que te sentias feliz e dos outros também. Dos dias que te sentias amada e dos outros também. Sabes, principalmente dos outros também. Daqueles a que estavas aprisionada, dos fechados em ti, loucos por sair, por arrombarem a porta que os mantinha isolados de tudo o resto. Não tinham voz, não tinham cor, eram pedaços de dor atirados para o canto. Uma dor que não curada crescia a cada segundo todos os dias quando a porta era trancada por ti, selada com lacre para que ninguém os ouvisse. Querias falar-lhe porque te viste nele um dia mais tarde, em alguém cuja porta nunca foi aberta e onde permanecia assim atirado para um canto. Assim…como os pedaços de dor que foi amontoando ao longo da vida.

6 comentários:

Rainha das cores disse...

linda, espero que o Natal tenha sido bom!
Um bjinho gde e optimas entradas!
E um 2007 recheado de coisas boas!

Anónimo disse...

Não faz muito tempo aconteceu-me algo muito parecido. Perante um desconhecido, trocamos algumas palavras, mas tive uma vontade imensa de lhe revelar coisas que nunca falei a ninguém. Que coisa estranha...talvez porque de alguma forma me identifiquei com ele e com a sua história de vida?!

Um 2007 maravilhoso!!

Beijos

Anónimo disse...

Um feliz 2007.

Anónimo disse...

Sem desprimor para os teus outros textos, sabes que este foi o que mais gostei. Muito, mesmo! Mas sou fã deste... e dos outros também!

Beijos grandes!

1entre1000's disse...

acho q me vou repetir, mas...
Gosto de te ler!! :)*

Francisco disse...

Muito bonito maninha! Muito mesmo! A tua imaginação voa enquanto a caneta dança ao som da música do Amor. Maninha! ;) Beijinhos muito grandes.