3 de fevereiro de 2009

O Calendário

Acordo para mais um dia. Este dia que agarro com ambas as mãos, com a força de um leão. No calendário é só mais um dia. Risco-o com uma cruz, mal definida como as linhas da vida. Incertas, desbotadas e frágeis. Passava por ele e não era foco da minha atenção. Nunca o foi. Ainda marcava Setembro de 2008. Tanta vez olhei mas não vi, como aquelas coisas que estão mas não estão e acabam por passar despercebidas. Tanta coisa que estava lá. O relógio parado há anos, a carta que escreveste em cima do baú, a planta não regada, a fotografia sem moldura, o lápis por aguçar e o beijo por dar. Folheei-o até à data de hoje e tudo começou com a cruz incerta como a minha vida. Porquê eu? Porquê a minha vida a desmoronar? Porquê o meu calendário a terminar? Dei corda, reli-a e guardei-a, reguei-a, emoldurei-a e agucei-o para poder riscar os dias seguintes. Guardei-o para to poder dar, ainda hoje. O beijo que devia ter saído de mim há muito tempo e o qual já te devia pertencer. Todos os dias uma nova cruz. Dias do calendário vividos como deveria ter vivido toda a minha vida. Todos os dias uma nova cruz, até o carvão do lápis acabar.

1 comentário:

Carriço disse...

Duas certezas: o carvão acabará para todos; de pessoas como tu, outro carvão escreverá muita coisa bonita.

Beijos grandes!