Quero pegar na caneca do chá e ler o teu livro. Acomodar-me na manta e entrar no teu romance. Está frio. A chuva cai, cai como as tuas palavras. Surgem devagar como quem canta pela primeira vez e aquece a multidão. É ter nas mãos os meses que passaram. Tempo em silêncio que fazia parte dos nossos serões. Tempo útil. Onde te tinha pelo som da caneta, pelo encostar na cadeira. Observava-te. Agora, ao ler-te, consigo aperceber-me da expressão daquele dia, àquela hora, naquele segundo. Excerto da página nove, segundo parágrafo. Não é apenas um livro. É o teu livro. Estás aqui. Estão aqui as emoções que senti durante meses. Hoje vivo-as com mais intensidade. Não te vejo apenas, leio-te. Não há barreiras entre o leitor e o escritor. Não há barreiras entre mim e ti.
1 comentário:
Hoje, papéis invertidos, estive próximo disso. E gostei muito. Assim como gostei muito do texto, a noção de o livro ser uma compilação dos tempos passados em silêncio, o considerar esse tempo útil e rever as expressões faciais na escrita. Expressões escritas.
Haja tempo, para ires escrevendo umas coisas assim...
Beijos grandes
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